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3 de jul. de 2024

Selva!!!

Era o louco da ilha, ou o louco da aldeia? Não! Era o amigo Selva, cujo apelido ganhara quando fuzileiro naval em treinamento no CIGS – Centro de instrução de guerra na selva. Bravo e brioso soldado do Exército Brasileiro, teve sua carreira abreviada por causa de um acidente de automóvel em que faleceu um companheiro de farda e ele teve debilitada parte de suas faculdades mentais, mas não perdeu a sabedoria, bom humor, censo moral e cívico, em cujo barraco onde morava havia uma Bandeira do Brasil sempre hasteada. Viveu em Soure (PA), Ilha do Marajó, o resto de sua vida. E não foi pouco tempo. Amigo de todos os “Selva”, como tratava a todos, tive o privilégio de ser seu amigo. Então vejamos:
Ele não era pedinte, nem precisava ser, pois era mantido por familiares seus. Mas vez por outra pedia algum dinheiro emprestado ou mesmo dado, em cuja abordagem, dizia: “Selva! Me arranje ai R$ 10,00, pois estou a precisar e é melhor pedir do que roubar, né? – Analise esta tese!”, completava. Um dia eu estava com apenas R$ 5,00 e logo entreguei. Ele pegou, olhou em silêncio e ficou como se esperasse mais R$ 5,00. Eu disse: Tá tudo certo, Selva, eu perco e R$ 5,00 e você perde R$ 5,00. Rimos.

Num período em que vivi só (descasado), estava numa festa no Solar do Bola, numa mesa e sem companhia. De surpresa vi ser colocado sobre a mesa um suculento filé com fritas, o qual não havia pedido. Quando olhei para questionar o garçom, tive a surpresa de ver o Selva, que logo se antecipou: “Coma, pra você não ficar fraco”. Mas quem paga a conta? – Brinquei. Ele apontou para seu filho empresário que o acompanhava em mesa próxima que a convite do Selva, veio me cumprimentar. Pedi que o Selva sentasse à minha mesa, pedi mais uma taça ao garçom e comemos juntos o filé, como tira gosto de muitas geladas.

O Bar do Papagaio, por muito tempo foi o point. Um dia, ao som do Violão e Voz do saudoso Montanha, começamos a nos arriscar a cantar também. Montanha, sempre solícito, se esforçava para acompanhar e desfaçar o desafino de nossas vozes. Como sempre, ataquei de A Volta do Boêmio. Ofereci o microfone ao Selva, que não se fez de rogado e disse: “Selva, vou cantar, mas antes preciso fazer um “prólogo”. E disse tudo sobre uma bela música, antigo sucesso de Waldic Soriano e para surpresa de todos, cantou com belo e afinado vozeirão.

Não o conhecendo, ninguém perceberia sua leve deficiência mental, a não ser por algumas “viajadas”, não sei se voluntárias ou mesmo devido a sua saúde mental. Passados alguns dias sem ser visto na cidade, quando o encontrei, perguntei: Por onde andava, Selva? Ele: “Fui a Belém fazer um check-up e aproveitei pra ir a Roma ver a posse de Bento XVI”. Eu: Que legal! E a saúde, tá tudo bem? Coração, estomago, intestino, fígado, rins, próstata? Ele: “Tudo bem”. Eu: Mas você achou muito ruim o exame da próstata? Ele: “Não. Sendo só o dedo”.   





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